O Diário Noticias publica hoje um artigo onde, citando a associação patronal AHRESP, diz que faltam 40 mil trabalhadores na restauração e alojamento, que cerca de metade das empresas de restauração têm falta de pessoal e que esta situação está a travar novos investimentos.

No artigo, citando sempre fontes da AHRESP, diz que o setor precisa urgentemente de mão-de-obra, mesmo que seja menos qualificada.

Ora, o problema do setor são os salários baixos, as más condições de trabalho, os horários de trabalho infindáveis, o não pagamento dos feriados, os ritmos de trabalho, o trabalho ilegal e clandestino, o fumo do tabaco durante todo o período do trabalho. As empresas que pagam melhores salários e oferecem boas condições de trabalho não têm falta de pessoal.

Por exemplo, em 2010 o salário mínimo no setor da tabela salarial da associação patronal APHORT para os empregados de mesa, balcão, cozinheiros, etc. era de 532 euros e na tabela salarial da AHRESP era de 520,50, enquanto o salário mínimo nacional era de 475 euros. Hoje, na tabela salarial da APHORT é de 542 euros (está congelado desde 2011) e da AHRESP, mesmo coma revisão de 2017, é de 568 euros.

Hoje cerca de 80% dos trabalhadores da restauração recebem o salário mínimo nacional, situação muito diferente ao período antes da troika.

Por outro lado, não são oferecidas condições mínimas de trabalho, os trabalhadores são obrigados a trabalhar diariamente 10, 12 e mais horas e com ritmos intensos de trabalho, sem pagamento de trabalho suplementar, o que configura trabalho escravo. Cerca de 30% dos trabalhadores têm vínculos clandestinos, o patronato não faz descontos para a segurança social, que prejudica muito os trabalhadores no desemprego, doença e reforma e desmotiva a aposta dos trabalhadores em fazer carreira no setor. Um grande número de trabalhadores recebe parte da sua retribuição mensal extra recibo, o que configura trabalho não declarado, que prejudica os trabalhadores no desemprego, doença e reforma e desmotiva a aposta dos trabalhadores em fazer carreira no setor. Muitas empresas, servindo-se ainda da legislação do anterior Governo, não pagam devidamente o trabalho em dia feriado, os trabalhadores trabalham 8 horas e depois ficam em casa 4 horas, ou seja 50% é trabalho escravo. A esmagadora maioria dos trabalhadores ainda têm um dia de folga apenas. A Lei do tabaco não é respeitada e os trabalhadores trabalham durante todo o dia fumando o tabaco dos outros.

Não há outro setor com salários tão baixos, onde haja horários tão longos, tanto trabalho clandestino, tanto trabalho não declarado, tantos trabalhadores com apenas um dia de folga. Inclusive não há outro setor onde existam aqueles papeis ridículos de “consulta de mesa” para facilitar a fuga e evasão fiscal.

Tem havido muita formação profissional, mas depois da formação profissional os trabalhadores são confrontados com esta realidade e fogem do setor como o diabo da cruz.

Devemos separar a restauração do alojamento, pois no alojamento a situação não é tão grave.

Neste momento decorrem negociações difíceis com as associações patronais AHRESP e APOHRT. Nestas negociações, os sindicatos pretendem repor os valores da inflação do perdida durante o período de congelamento dos salários, o que não é nada demais pois não reclamam a distribuição dos fabuloso lucros obtidos pelas empresas, pretendem manter os direitos da contração coletiva, que são poucos, e, pela primeira vez, pretendem que sejam garantidos dois dias de descanso semanal para todos os trabalhadores, mas as associações patronais recusam estas propostas e mantêm em cima da mesa propostas para retirada de importantes direitos.