Trabalhadores da Manpower, RHmais e de outras empresas prestadoras de serviços nas três grandes operadoras de telecomunicações, vão estar em greve nos dias 24 e 31 de Dezembro.

Constantes alterações de horários a causar manifestas e continuadas dificuldades à conciliação da vida profissional com a vida pessoal e familiar, nalguns casos em forma de castigo por discordar ou reclamar um direito; contratos a termo com uma rotatividade intensa devido à curta duração; remuneração mensal, em regra, fixada no mínimo salarial, incompatível com o nível de responsabilidade ligado às funções altamente qualificadas; inexistência de progressão na carreira; rigidez na supervisão; pausas contabilizadas ao segundo e ameaçadas com penalização; intenso desgaste para alcançar prémios mensais mas em que os valores são subtraídos sem qualquer justificação ou critério; despedimentos “automáticos”; pressão, instabilidade constante e comportamentos que indiciam evidente assédio moral; são injustiças acumuladas ao longo de anos a fio a que os trabalhadores dizem: chega! Por isso se levantam em protesto numa onda que promete abraçar todos aqueles que se sentem vítimas da mesma selva laboral em que vale tudo para os explorar.

A paciência tem limites e os trabalhadores não aguentam mais ser tratados desta forma, como mão de obra indiferenciada e não qualificada, expostos a todo o tipo de pressões num contexto de abuso absoluto face à fragilidade do vínculo do contrato de trabalho. Contexto que faz despoletar momentos de grande emoção e revolta, expressos também nas reuniões plenárias, como aconteceu recentemente nas instalações da Meo Altice, no Porto, onde alguém se levanta e dirige aos seus colegas de trabalho exclamando que “...todos nós para a Empresa não valemos mais que uma cadeira!”. Estado de espírito partilhado por todos ainda mais depois que tiveram conhecimento que a Manpower tinha uma vez mais ignorado por completo a derradeira proposta para iniciar um diálogo que permitisse analisar as reivindicações, os anseios, o sentir de profunda injustiça que perpassa pela generalidade dos trabalhadores, que perdura e se vem generalizando há mais de dois anos, com a Empresa a optar por sistematicamente ignorar, a parecer querer continuar no desgaste anímico dos trabalhadores pela via da aposta na instabilidade laboral.

A atitude de recusa de diálogo social alarga-se e é comum a todas as empresas prestadoras de serviços. E aqui, é preciso dizê-lo, com a cumplicidade das três grandes operadoras nacionais do ramo das telecomunicações que, em defesa da prestação de serviço com qualidade, esperar-se-ia que tivessem uma posição contrária, ou seja, de exigência e critério sobre as entidades contratualizadas, no que respeita às condições objetivas daqueles que lhes prestam efetivamente o serviço, os trabalhadores! Estariam assim certamente a contribuir proactiva e positivamente para um melhor serviço e para a solução do conflito. Que além do mais seria o contributo mais justo e equilibrado para a valorização daqueles trabalhadores que, no exercício das suas funções, na prática são o rosto da MEO, da NOS e da Vodafone. Trabalhadores que, apesar disso, todos os dias há meses e muitos anos prestam serviço e mantêm vinculo laboral a empresas de trabalho temporário e outsourcing...

Os problemas e o contexto laboral de extrema adversidade comuns à generalidade destes trabalhadores, independentemente da empresa, do local e da atividade, tem levado a uma crescente tomada de consciência dessa realidade bem como a uma maior consequência nas decisões e nas ações empreendidas. Os trabalhadores deste universo, premiados há demasiados anos com salários e condições de trabalho miseráveis, têm vindo paulatinamente a demonstrar que chegaram ao fim da linha na caminhada para o alcance das suas legítimas aspirações de trabalho com direitos e dignamente remunerado. Convictos da sua razão e da justiça das suas reivindicações querem demonstrar com esta greve que continuam determinados a fazer sacrifícios em defesa do seu futuro e do direito a um projecto de vida. Acreditam também que com a sua luta também estão a contribuir para um Portugal melhor pela via da justa valorização do trabalho e dos trabalhadores!

Dia 24 de dezembro, no Porto, concentração à porta da NOS

No Porto, na primeira ação de greve, dia 24 de dezembro, entre as 11h e as 12h30, os trabalhadores das três grandes Operadas de Telecomunicações para quem prestam serviço, numa atitude de unidade e protesto comum, vão estar concentrados junto ao edifício da NOS, em Campanhã, para publicamente manifestarem o descontentamento que os acompanha há muito tempo e esclarecer a razão de uma greve cujos únicos responsáveis são as suas entidades patronais.