20200521SinesCom a realização de uma marcha, dia 21, em Sines, os trabalhadores e os seus representantes mostraram que não pode ser limitado o direito a lutar pelo emprego e por salários na íntegra, quando as grandes empresas não abdicam de dar milhões aos accionistas.

A luta vai continuar, assegurou o coordenador do SITE Sul. No final da marcha - que saiu, em «cordão humano» e respeitando o distanciamento social e demais normas sanitárias, do Jardim das Descobertas para o Rossio (Jardim da República) - Eduardo Florindo informou que está a ser preparado um abaixo-assinado, para correr empresa a empresa.

Outras decisões serão tomadas brevemente pela estrutura sindical, considerando também que, para lá dos despedimentos e lay-off já concretizados, surgem novas situações, como a Euroresinas.

A valorização da luta dos trabalhadores e a importância de a travar nas ruas foram ideias presentes na generalidade das breves intervenções sindicais, durante a concentração no Rossio.
Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP-IN, afirmou que a acção ali concluída demonstra que, se há um vírus, do qual ninguém tem culpa, também há responsáveis pela crise económica e social que se está a viver.

Tal como ali demonstraram os participantes naquela acção, é preciso haver organização, acção e luta dos trabalhadores para exigir a garantia da saúde, do emprego, dos salários e dos direitos. Temos exigido isto desde a primeira hora, exercendo os nossos direitos. Os direitos dos trabalhadores não estão suspensos pelo vírus. Os direitos mantêm-se, como nós demonstrámos no 1.º de Maio, desde que se garanta o cumprimento das normas exigidas para a protecção da saúde.

Pedro Carvalho, dirigente do SITE Sul, foi o primeiro a falar, em nome dos trabalhadores das empresas do complexo industrial de Sines. Frisou que a marcha se realizou para tentar reverter a situação que se vive no Litoral Alentejano. Responsabilizou o grande poder económico e, concretamente, empresas como a Petrogal, que têm muitos milhões de euros de lucros anuais, afinal de contas, despedem trabalhadores, desbaratam pessoas.

É com acções destas, porque a luta é na rua, que temos de seguir em frente e combater esta ofensiva brutal, apelou.

Luís Leitão, coordenador da União dos Sindicatos de Setúbal, saudou os que estiveram nas ruas no 1.º de Maio, a lutar pelo emprego, por salários, a dizer não aos lay-off. Lembrou que cumprimos as regras de segurança e acentuou que a rua é nossa, é lá que se combate.

Dirigiu uma palavra de muita confiança aos trabalhadores do complexo industrial de Sines que, no dia 4 de Maio, perante aquilo que não queriam que eles fizessem, reuniram-se em plenário no Jardim das Descobertas, de onde se partiu para marcar a marcha de dia 21.

Não é um problema novo

Rogério Silva, coordenador da Fiequimetal, saudou igualmente a coragem que os trabalhadores tiveram, no dia 4, para marcar esta jornada.

A marcha visou denunciar um caso que, se não for revertido, terá consequências, em primeiro lugar, para cada um desses trabalhadores e para as suas famílias, mas também para toda a economia local, para todo o comércio.

Mas, para além da denúncia, a acção de dia 21 teve por objectivo lutar pelo direito ao emprego, consagrado na Constituição. A CGTP-IN não abdica da luta pelo emprego.

Alguns querem calar-nos, mas nós não confundimos o importante distanciamento social, que é preciso manter para defender a saúde, com o distanciamento dos problemas reais dos trabalhadores.

O que ocorre no complexo industrial de Sines reflecte um problema que não é novo e contra o qual a federação, o sindicato e os trabalhadores têm vindo a lutar, há muitos anos, exigindo que cada posto de trabalho precário passe a ser efectivo.

Todos os trabalhadores despedidos desempenham funções absolutamente essenciais para a manutenção e a qualidade dos equipamentos, seja na Repsol, na Petrogal, na EDP ou na Euroresinas.

Não sendo novo, o problema tornou-se ainda maior. A pandemia não pode ter costas largas e servir para descartar trabalhadores que são fundamentais para o funcionamento destas empresas.

Rogério Silva reafirmou o apoio à luta e para a prosseguir, até se conseguir resultados concretos de garantia do emprego e salvaguarda dos postos de trabalho.

Numa reunião agendada para estes dias com a ministra do Trabalho, a federação vai exigir que tome medidas, que olhe para o problema real.

É fácil distribuir milhões e milhões em lay-off «simplificado» para as multinacionais, para as grandes empresas. Para os trabalhadores, isto é complicar-lhes a vida. Não pode ser. Não há combate eficaz à pandemia, se não houver valorização do trabalho e dos trabalhadores. Não abdicamos desta exigência.

Trata-se de uma luta pelo emprego, mas é também uma luta pela dignidade de quem trabalha.

FONTE: FIEQUIMETAL