Bosch pode pagar por inteiro salários durante lay-off

A Bosch tem todas as condições para pagar a cem por cento os salários dos 2500 trabalhadores que decidiu, à socapa, colocar em lay-off a partir da próxima semana, defende o SITE Norte.

A penalização por essa decisão da multinacional não deve recair sobre os trabalhadores, reduzindo os seus salários e os descontos que vão determinar o valor das suas reformas, afirma o sindicato, numa nota à comunicação social, emitida hoje.

Por outro lado, o SITE Norte considera inaceitável que a Bosch, um dos maiores exportadores nacionais, admita que os custos do lay-off sejam pagos pela Segurança Social (dinheiro dos trabalhadores).

A multinacional alemã opera em Portugal há vários anos e tem recorrentemente acesso a fundos comunitários e estatais, assim como a variados benefícios fiscais, tal como vai beneficiar da recente descida do IRC. A Bosch Portugal, em 2024, cresceu 14 por cento.

Quem tem a responsabilidade?

Admite-se que o sector da mobilidade e da energia vive uma situação complexa, por ausência de fornecedores com capacidade suficiente e por falta de respostas estatais.

No entanto, o sindicato não admite que sejam os trabalhadores a pagar os seus próprios salários, quando se fala de um grupo económico centenário, com lucros crescentes a cada ano. Esses lucros acumulados é que deveriam ser usados para pagar os salários dos trabalhadores que a empresa decidiu pôr em lay-off.

Na guerra económica que os EUA e a UE cavalgam, não há nenhuma responsabilidade dos trabalhadores. Além disso, nenhuma “Trumpice” tem sido devidamente enfrentada por aqueles que, na UE, têm responsabilidade de defender os interesses do País. Pelo contrário, confirma-se a sua conivência com os interesses norte-americanos.

Secretismo para travar resposta

Para o SITE Norte, é inaceitável que os trabalhadores só tenham tido conhecimento da desgraça que os vai afectar, após o leite derramado e por notícias na comunicação social.

Desde Setembro, a administração já avistava uma quebra. Nas últimas semanas, o sindicato emitiu dois comunicados internos, porque foi vaga a informação que obteve sobre as paragens pontuais de produção.

Nesse período, o SITE Norte procurou, junto da administração e da Comissão de Trabalhadores, informação sobre as paragens. Decorria já o prazo de negociação do lay-off entre a administração e a CT, mas em momento algum foi comunicada a possibilidade de recurso a tal medida.

Por força de lei, a comunicação da intenção de aplicação de lay-off é feita à CT ou, na sua ausência, ao sindicato.

O prazo para fiscalizar, contestar ou negociar os termos do lay-off correu, sem que a administração e a CT comunicassem alguma coisa, a quem quer que fosse.

O sindicato entende que esta opção pelo secretismo nada tem a ver com a prevenção de alarmismos. Denota, sim, uma intenção de limitar aos prazos mínimos legais a resposta dos trabalhadores.

Ninguém, de boa-fé, negoceia o prejuízo dos trabalhadores na calada, afirma o SITE Norte, estranhando a coincidência que leva a administração a limitar informação ao sindicato, desde o final do ano passado.

No passado recente, os trabalhadores aceitaram trocar dias de férias, gozar as férias não gozadas e horas «Fhd», para, no fim, serem alvo de lay-off.

Fonte: Fiequimetal

Bosch Braga Fiequimetal