INTERVENÇÃO SOBRE A CGTP-IN E OS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

 

Deolinda Machado
Membro do Conselho Nacional

Começo por saudar todas e todos os congressistas presentes neste 10º Congresso da nossa CGTP-IN. Quero, na pessoa de cada um de vós, saudar todas e todos os trabalhadores portugueses, bem como aqueles que não o sendo, aqui vivem, aqui trabalham e aqui partilham o melhor de si.

Quero saudar todas e todos os que deixam o nosso Conselho Nacional mas que continuam no nosso projecto CGTP-IN.

Caros e caras congressistas, camaradas, amigos!

Num mundo em plena transformação e sedento de justiça e de paz, somos convidados à militância a tempo inteiro. Nenhum de nós está dispensado do compromisso individual e colectivo em ordem à construção duma sociedade mais justa e, consequentemente, mais humanizada e mais desenvolvida.

Sabemos que não é fácil, mas também sabemos que é possível. São, felizmente muitos os exemplos vivos disso mesmo, e estão presentes neste auditório. São muitos também os que nos precederam na luta e que já partiram, mas deixaram-nos um exemplo de vida de grandes combates, de fortes convicções e de grandes vitórias como aquela que em Abril celebramos, o 30º aniversário da Liberdade e da Democracia!

Diz-nos a história que temos de continuar a lutar pela democratização das relações de trabalho, pela solidariedade entre gerações, pela igualdade entre mulheres e homens, por uma maior justiça social.

Esta acção permanente envolve todas as áreas de intervenção do sindicalismo, mas é da comunicação social que vou falar-vos, visto ser esta responsabilidade que me está atribuída na CGTP-IN.

A comunicação é um elemento básico da sociedade em geral. Por isso, ela é igualmente importante no seio da actividade sindical,

 

 

 

tanto no interior da vida sindical como na estreita relação que estabelece entre os trabalhadores e opinião pública.

É um facto que, consumada a privatização da quase totalidade das empresas públicas de Comunicação Social, assistimos hoje à concentração dos principais meios de informação nas mãos de um número cada vez mais reduzido de grupos económico-financeiros.

Este factor, associado a uma política que visa fragilizar o sector estatal da comunicação social para o colocar ao serviço também dos interesses económicos privados, e o aumento do domínio deste pela direita, cria obstáculos crescentes à difusão da mensagem sindical, obrigando os sindicatos e a CGTP-IN a um esforço acrescido com o objectivo de melhorar a eficácia da nossa acção neste campo. Como podemos constatar, esta concentração não é favorável à causa dos trabalhadores.

Os trabalhadores deste sector, por exemplo os jornalistas, são pessoas com família e com a mesma preocupação de todos os outros. Isto é, de terem um emprego estável e com condições para exercerem dignamente a sua profissão. A precariedade que se vive no sector leva a que os jovens fiquem em sucessivos estágios gratuitos que só podem classificar-se de sucessiva exploração. E não estamos a falar de pessoas desqualificadas.

Assim, as centenas de rescisões que têm sido impostas aos trabalhadores, utilizando a ameaça de despedimento para quem não aceitar, assim como a tentativa para reduzir a importância do sector público numa área que é fundamental para assegurar a independência, o acesso e a liberdade de informação, bem como a tentativa para afastar a CGTP-IN dos Conselhos de Opinião, o que só foi possível impedir devido à nossa pronta intervenção, só tem contribuído para piorar ainda mais a situação neste sector.

A precariedade que atinge os jornalistas funciona como pressão que conduz a formas mais ou menos veladas de censura ou auto-censura. Isto tem um forte peso político.

No que concerne aos conteúdos da informação assiste-se, hoje a uma regressão. Secundarizam-se os problemas reais do país como, por exemplo, o emprego, a saúde e a habitação, para se valorizar a intriga e promover a devassa da privacidade das pessoas. Mas isto não deve ser aproveitado para limitar a liberdade de imprensa como alguns já mostraram vontade de avançar.

 

 

 

É neste quadro, em grande parte adverso, que temos de actuar, pois coloca ao movimento sindical grandes dificuldades mas também importantes desafios.

Face a este conjunto de questões, o que devemos então fazer? Como combater as politicas deste governo PSD/PP?. Não desistir de informar os jornalistas da actividade que desenvolvemos, isto é, sermos persistentes e proponentes ao nível local, regional e nacional. A acção no terreno e a sua divulgação são fundamentais para a defesa dos direitos e garantias dos trabalhadores e da própria Democracia.

Para que a acção sindical no campo do relacionamento com os órgãos de comunicação social possa ser cada vez mais eficaz, e para que os nossos objectivos de informar, com verdade, a sociedade portuguesa e os trabalhadores das posições do MSU e, nomeadamente, da CGTP-IN, torna-se necessário melhorar, também, significativamente a qualidade do nosso trabalho neste campo.

Assim, temos de adequar cada vez mais as mensagens sobre as nossas posições aos diferentes destinatários, já que existem diferenças importantes entre os diferentes públicos-alvo que pretendemos atingir. Temos, igualmente, de ajustar as nossas mensagens aos diferentes suportes de comunicação – jornais, revistas, TV, rádios nacionais ou locais, etc.- para conseguir a sua difusão. Temos ainda de estudar, com profundidade, não só o que é transmitido das nossas posições mas também como é transmitido nos órgãos de comunicação social, para assim podermos melhorar o que fazemos. Temos igualmente de estudar, utilizando metodologias científicas, e não com base em simples palpites ou em tomar o desejo pela realidade, os efeitos da nossa comunicação, pois só assim é que poderemos melhorá-la e aumentar a sua eficácia.

Face ao crescente controlo dos órgãos de comunicação social por um numero restrito de grupos económicos e pela direita, que procura distorcer ou mesmo eliminar as posições do MSU e, nomeadamente da CGTP-IN, do espaço público construído pelos média, temos de aprofundar a nossa aprendizagem e melhorar a nossa qualificação neste campo para dificultar a manipulação e a distorção, a que muitas vezes são sujeitas as posições sindicais. Assim, devemos dar maior atenção à preparação e ao planeamento das nossas intervenções nos órgãos de comunicação social.

 

Para além disto, existe uma área em que é urgente melhorar significativamente, que é a nossa acção junto dos órgãos de comunicação social locais e regionais. Existem no país centenas de jornais e dezenas de rádios regionais que é fundamental utilizar de uma forma mais planeada e intensa com o objectivo de difundir a mensagem sindical. Mas, para que isso possa ter lugar, é necessário que as nossas estruturas regionais, distritais e mesmo locais sejam apoiadas com materiais actualizados e ajustados, tanto aos destinatários dessas mensagens, como a esses órgãos de comunicação.

Temos pela frente grandes dificuldades e obstáculos neste campo, mas também grandes desafios e potencialidades para difundir as posições do MSU e, em particular, da CGTP-IN a toda a sociedade e, nomeadamente, aos trabalhadores. Com maior qualificação, profissionalização, verdadeira entreajuda e empenhamento colectivo, com resposta certa, e na hora certa, aos problemas dos trabalhadores, conseguiremos.

Defender os interesses e os direitos dos trabalhadores, para construir uma sociedade mais justa, mais humana, mais solidária, mais democrática, uma sociedade sem excluídos, uma sociedade bem diferente daquela em que ainda vivemos, é o caminho.

Viva este nosso 10º Congresso!

Viva a CGTP-Intersindical Nacional!

Lisboa 31 de Janeiro de 2004