Mulheres politicaConjugando o risco de pobreza com outros dois indicadores (privação material e social severa e intensidade laboral per capita muito reduzida), verifica-se que, em 2021, eram perto de 2 milhões e 32 milhares as pessoas residentes em Portugal que se encontravam em situação de pobreza ou exclusão social mesmo após transferências sociais, o que afecta 22,4% da população.

Mais de 1 milhão e 274 mil das pessoas nessa situação eram mulheres, ou seja, 23,5% do total das mulheres residentes no país, um número superior ao dos homens (1 milhão e 38 mil, ou seja, 21,1%), tendo aumentado 138 milhares em relação a 2020, também ainda mais que entre os homens (+120 mil).

Pese embora o discurso oficial sobre os efeitos da crise, minimizando-os, com o argumento da eficácia das medidas de combate aos efeitos económicos, sociais e laborais da pandemia, a pobreza agravou-se em 2020.

Regista-se também uma degradação na generalidade dos indicadores respeitantes à incidência e intensidade da pobreza, ao efeito conjugado da pobreza e da exclusão social, às desigualdades na distribuição do rendimento e às consequências no mercado de trabalho.

Os efeitos estenderam-se às principais categorias da população, embora com maior severidade em relação a grupos sociais específicos, como os desempregados e os reformados. Mas entre quem trabalha a pobreza também aumentou, contrariando o discurso oficial e confirmando um enorme impacto, bem superior ao propalado pelo Governo.

Aumentaram também as desigualdades na repartição do rendimento, com os 10% mais ricos a ganharam quase dez vezes o que ganham os 10% mais pobres.

No espaço de um ano, a pobreza afectou mais 230 mil pessoas, atingindo perto de 1 milhão e 900 pessoas, o que significa que, em 2020, 18,4% da população residente em Portugal estava em situação de pobreza mesmo após transferências sociais (pensões e outras prestações sociais), vivendo com menos de 554 euros por mês (6.653 euros anuais).

Inverteu-se assim a redução que se vinha registando desde 2016, devido à política de recuperação de rendimentos que, embora limitada, teve efeitos positivos na melhoria das condições de vida dos trabalhadores e pensionistas e, consequentemente, na diminuição da pobreza.

As mulheres têm um risco de pobreza superior aos homens (19,2% face a 17,5%), em virtude dos seus salários serem muito baixos – ainda mais baixos que os dos homens -, assim como todas as prestações que deles dependem, e foi entre elas que a pobreza mais aumentou: em 125,6 milhares face a 2019, o que corresponde a 935,6 mil mulheres pobres.

Sem a segurança social e as prestações que garante, o nível de pobreza seria ainda mais elevado, dando as pensões o maior contributo, o que permite que a percentagem de pobres se reduza quase a metade. Também as restantes prestações sociais (como o desemprego, a doença, a parentalidade, o abono de família, o RSI, entre outras) são importantes nessa redução. Ainda assim, a percentagem de pobres é muito elevada, sendo quase sempre superior no caso das mulheres.

Em 2020, 45,3% das mulheres em Portugal eram pobres antes de qualquer transferência social, reduzindo-se para 23,6% após as transferências relativas a pensões e para 19,2% após todas as transferências sociais.

tabela igualdade

O risco de pobreza mesmo após transferências sociais era particularmente elevado entre as trabalhadoras desempregadas, atingindo 43,2% em 2020, devido à fraca cobertura e baixo valor das prestações de desemprego, tendo aumentado face a 2019.

As mulheres reformadas tinham um risco de pobreza de 20%, aumentando quase 3 pontos percentuais em relação a 2019, o valor mais elevado desde 2015.

Também a situação dos trabalhadores se degradou em 2020, sendo o valor atingido um dos mais altos desde o início desta série estatística (2003), afectando 525 mil trabalhadores, 240 mil dos quais mulheres (10,3% das mulheres trabalhadoras), e demonstrando que há trabalhadores que empobrecem a trabalhar devido aos salários muito baixos que auferem.

O crescimento da pobreza entre os trabalhadores atingiu ainda mais as mulheres que os homens (+ 40 mil face a +29 mil entre os homens).

tabela2

Conjugando o risco de pobreza com outros dois indicadores (privação material e social severa e intensidade laboral per capita muito reduzida), verifica-se que, em 2021, eram perto de 2 milhões e 32 milhares as pessoas residentes em Portugal que se encontravam em situação de pobreza ou exclusão social mesmo após transferências sociais, o que afecta 22,4% da população.

Mais de 1 milhão e 274 mil das pessoas nessa situação eram mulheres, ou seja, 23,5% do total das mulheres residentes no país, um número superior ao dos homens (1 milhão e 38 mil, ou seja, 21,1%), tendo aumentado 138 milhares em relação a 2020, também ainda mais que entre os homens (+120 mil).

 

DIF/CGTP-IN
Lisboa, 03.02.2022