A Ciência em Portugal assenta na precariedade de investigadores que se dizem exaustos e sem perspetivas de futuroEm 3 de fevereiro realiza-se a conferência de ministros dos países da UE responsáveis pela investigação e inovação, no quadro da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia. Na véspera, dia 2, a FENPROF irá denunciar o que nesta conferência, decerto, será omitido.

A FENPROF, através do seu Departamento de Ensino Superior, promoveu um inquérito destinado a conhecer a situação socioprofissional dos investigadores portugueses. Os três principais objetivos deste trabalho, coordenado por Ana Ferreira, investigadora do CICS.NOVA, Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa e da FENPROF, foram:

- Caraterizar uma população que se tem mantido invisível, apesar da sua grande importância, ainda maior no atual contexto de combate à pandemia;

- Caraterizar a atividade que os investigadores desenvolvem em Portugal;

- Caraterizar a relação que têm com o trabalho, com a sua situação perante o trabalho e as suas vivências subjetivas num quadro de enorme precariedade.

O resultado obtido decorre da participação de cerca de dois mil e setecentos (2700) investigadores neste estudo e confirma que, apesar de um conjunto de alterações legislativas (Emprego Científico: DL 57/2016; Lei 57/2017; Lei 24/2018; PREVPAP) que permitiram alguma melhoria nas condições dos trabalhadores doutorados, os quadros legais aprovados e os programas desenvolvidos apenas promoveram de uma forma muitíssimo pontual a integração na carreira docente e científica, não resolvendo o problema da precariedade. De acordo com as respostas dos investigadores, é legítimo afirmar que, em Portugal, a Ciência é um edifício que assenta na precariedade de quem a desenvolve e que esses, os investigadores, apresentam hoje elevados níveis de exaustão e burnout.

Quanto ao Governo, em particular o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, quase se tem limitado a gerir expetativas, pouco fazendo para alterar esta situação que é inqualificável, injusta, contrária aos princípios gerais das leis laborais nacionais e das recomendações internacionais, tanto da Comissão Europeia, como da OIT, para além de pôr em causa o próprio futuro do sistema científico e tecnológico em Portugal. Os investigadores dizem que gostam da sua atividade, pretendem continuar a desenvolvê-la, mas admitem ter de a abandonar.

No próximo dia 3 de fevereiro realiza-se a Conferência informal de ministros da Competitividade (Investigação e Inovação), inicialmente prevista para dias 2 e 3, em Lisboa. Porém, dada a situação epidemiológica que vivemos, foi transferida para o meio digital (videoconferência). Porque esta (vídeo)conferência certamente omitirá a situação daqueles que são o garante da investigação e da inovação, destinando-se, essencialmente, a tecer loas à “governação” europeia e dos diversos estados da UE, a FENPROF irá lembrá-la, divulgando publicamente as principais conclusões do estudo realizado.

Nesse sentido, promove a seguinte

Conferência de Imprensa

O trabalho científico em Portugal: precariedade e burnout

2 de fevereiro, 11:00 horas

Lisboa, Sede da FENPROF (Rua Fialho de Almeida) – sessão presencial, preferencialmente dirigida aos meios audiovisuais

Videoconferência, sala virtual da FENPROF - destinada à comunicação social em geral

Estará presente a coordenadora do estudo, investigadora Ana Ferreira, bem como André Carmo (dirigente do Departamento de Ensino Superior e Investigação da FENPROF) e Mário Nogueira (Secretário-Geral da FENPROF). Solicitamos aos/às senhores/as Jornalistas a melhor atenção para esta divulgação que se constitui como “contra-conferência” da que é coordenada pelo governo português, destinada a denunciar uma realidade que na conferência oficial será omitida.

FONTE: FENPROF