A relação entre mulheres e pobreza assenta nos baixos salários e pensões, na desigualdade remuneratória, na discriminação, na precariedade laboral, na desvalorização do trabalho doméstico e de cuidados não remunerados e no maior desemprego das mulheres.
Mais de 1 milhão e 700 mil pessoas estão em situação de pobreza monetária no nosso país, o que corresponde a uma taxa de risco de pobreza de 16,6% após transferências sociais, mas sem o sistema público de Segurança Social – mesmo com as suas lacunas e insuficiências ao nível da cobertura e das prestações - o número de pobres subiria para perto de 4 milhões e 300 mil pessoas (40,3% do total)1.
As mulheres têm um risco de pobreza superior aos homens (17,6% face a 15,4%), o que corresponde a cerca de 980 mil mulheres, em virtude dos seus salários serem em geral muito baixos, assim como todas as prestações que deles dependem. Mas sem o sistema público de Segurança Social a percentagem de mulheres pobres aumentaria para 42,5%, num total de 2 milhões e 361 mil mulheres.
O risco de pobreza mesmo após transferências sociais (que na sua maioria provêm da Segurança Social) era particularmente elevado entre as trabalhadoras desempregadas, atingindo 42,7% em 2023, devido à fraca cobertura e baixo valor das prestações de desemprego, tendo aumentado em relação a anos anteriores. Mas sem as transferências sociais seria de 64,1%.
As mulheres reformadas tinham um risco de pobreza de 21,2%, indicador que atingiu o valor mais elevado desde 2007, e as trabalhadoras de 8,3%, num total de 206 mil mulheres, demonstrando que há trabalhadoras que empobrecem a trabalhar devido aos salários muito baixos que auferem. Sem as transferências sociais, o risco de pobreza alcançaria os 87,7% entre as mulheres reformadas e 17,6% entre as mulheres trabalhadoras.
Conjugando o risco de pobreza com outros dois indicadores (privação material severa e intensidade laboral per capita muito reduzida), verifica-se que, em 2024, eram cerca de 2 milhões e 100 mil as pessoas residentes em Portugal que se encontravam em situação de pobreza ou exclusão social mesmo após transferências sociais.
Mais do que discursos politicamente correctos de quem governa, precisamos de políticas que resolvam os problemas do dia-a-dia. A proposta de Orçamento de Estado para 2026 e o Anteprojecto legislativo “Portugal XXI” (Pacote Laboral), confirmam o diagnóstico mas negam as soluções para o problema, o que antecipa o seu agravamento futuro.
Em vésperas do DIA INTERNACIONAL DA ERRADICAÇÃO DA POBREZA – 17 de Outubro de 2025 - o combate à pobreza, em particular das mulheres, tem de passar, necessariamente:
• Pelo aumento geral dos salários e das pensões de reforma
• Pela garantia de emprego estável
• Pela promoção da contratação colectiva, como instrumento essencial para garantir uma melhor e mais justa distribuição da riqueza
• Pela responsabilidade partilhada no trabalho doméstico e de cuidados
• Pela redução da sobrecarga das despesas com a habitação
• Pela defesa da saúde física e mental das mulheres.
1Fonte: INE - Inquérito às Condições de Vida e Rendimento. Últimos dados referentes a 2023.
CIMH/CGTP-IN
15.10.2025